sábado, novembro 29, 2008

O sombrio da noite envolve-me,
Os minutos passam demasiado depressa
Enquanto tento esquecer os tormentos e agonias sofucantes.
Os gritos silenciosos e abafados que saem de mim não têm qualquer expressão.
E continuo oprimida num mar negro de sentimentos frágeis mas consistentes.
Os sussurros das paredes que cochicham e se riem do meu eu inanimado sobre a cama.
A incerteza que a noite carrega na sua brisa gélida,
Torna o meu coração mais frio do que nunca.
Tudo consegue fazer com que o meu desespero se adense e propague às horas do dia.
Luto contra os vultos invisíveis que se aproximam de mim.
Os olhares vazios assemelham-se ao meu.
O meu canto já não soa a nada, a minha melodia mudou.
A noite trouxe até mim o silêncio.
A subtileza de um olhar profundo já nada me diz.
As palavras surdas são as únicas que me cativam.
O silêncio incómodo é a mais pura e simples forma de me despertar.
E levanto-me. Os meus passos fracos fazem ranger o soalho velho e gasto.
Vagueio pela casa sem saber para onde vou.
Os olhos semi-cerrados não transmitem qualquer emoção. Nada.
E continuo a caminhar. E dou voltas e voltas pela casa.
A noite torna-se ainda mais escura. Como se a Lua e estrelas tivessem desaparecido.


Olho em volta agora. Estou deitada no chão da sala, perdida numa claridade insistente.
Amanheceu. É dia, mas continuo mergulhada na sofreguidão nocturna.
Quanto mais se ergue o Sol, mais dor sinto.
Como se espinhos se me cravassem na pele.
As minhas mãos gelam o meu coração quente.
Fujo de todos, grito no vazio,
E encontro-me aqui.


Inês Moreira Santos